domingo, 11 de abril de 2010

Trote

A gente estuda uma vida inteira com o objetivo de passar em uma Federal, e quando consegue, o que nos espera?
O trote!
Dizem que é proibido, mas beber antes dos 18 também é, e tem muito moleque de 15 anos que já bebeu mais do que eu. Enfim, eles sempre dão um jeito. E como não podia ser diferente, os meus veteranos também deram.
Eu até fui liberada do trote, estava me recuperando de uma paralisia facial (essa é outra história) e passando uns cremes esquisitos no ombro por conta de espinhas (coisas de adolescente). Enfim, eu não precisava participar do trote. Mas eu pensei "eu ralei a minha vida inteira pra tá aqui, pra passar no vestibular, poxa eu quero tudo que eu tenho direito!".
Existe louco pra tudo!
Participei do trote. Não foi nada muito pesado, apenas uma gincana envolvendo a aquisição de um cheiro "agradabilíssimo".
Mas, o meu trote mesmo, começou foi depois. Na época eu precisava pegar três ônibus pra chegar em casa. Além de ser nova na cidade e não conhecer muita coisa.
Depois de tomar um banho na Universidade (na tentativa de tirar o odor), corri para o ponto de ônibus. Não sem antes "roubar" um boné de um amigo, a fim de esconder as minhas sombrancelhas que haviam sido pintadas com violeta gensiana (daquela que é difícil de tirar...). Boné "roubado", continuei meu caminho.
Já era tarde e eu não podia perder muito tempo. Meu ônibus era 184. Vi um saindo, encherguei o 1 e o 4. "Ah, é esse mesmo" pensei comigo. Corri feito louca! Peguei o ônibus.
Nunca houve uma rotatividade tão grande no banco ao lado do meu. Ninguém agüentava ficar mais do que 1 minuto ao meu lado. Eu estava muito cheirosa.
Desejei não ter lavado tão bem a tinta, pelo menos as pessoas saberiam que eu havia levado um trote e aquele não era o meu cheiro habitual...
Quase tirei o boné. Mas, lembrei aquela história "ninguém me conhece mesmo...".
Depois de um certo tempo, comecei a estranhar o caminho. Veio a dúvida "será que eu peguei o ônibus errado?".
Procurei algum indício do número do ônibus. Em vão. Criei coragem e fui perguntar ao trocador "Qual o número desse ônibus?"
"124". "124???". Eu vi o 1, o 4... mas faltou o 8!
Tentei me acalmar.
"Ele passa na rodoviária?".
"Não. O ponto mais próximo da rodoviária foi a 4 pontos atrás".
Entrei em desespero! Desci no ponto seguinte. A gente realmente não pensa nessas horas. Nunca tinha visto um lugar tão deserto. Sem um sinal de vida.
Luz? Só dos postes. As casas? Todas com portas e janelas fechadas. Enfim, o desespero aumentou.
Em pouco tempo, surgiu outro ônibus, mas de uma linha que eu não conhecia.
Fiquei naquela "faço sinal ou não?". Enquanto eu pensava, ele parou. Não sei se por engano, por milagre, ou pela minha cara de desespero mesmo. O importante é que consegui ir para mais próximo da rodoviária do que eu estava.
Tive que andar só mais um quarteirão... brincadeira, só atravessei a avenida.
Mas, a noite não tinha acabado. Na confusão eu perdi o ônibus que pegaria para casa e tive de aguardar mais uma hora. Pelo menos agora estava no lugar certo. Com apenas um agravante, depois de pagar um ônibus a mais do que havia programado e uma passagem mais cara do que o esperado pelo outro ônibus que saia uma hora mais tarde... eu estava sem dinheiro!
O que não seria muito problema se depois de toda a aventura eu não estivesse com fome, e claro, após chegar na minha cidade (na verdade eu morva não só longe, mas em outra cidade) eu não tivesse de pegar mais um ônibus para casa.
Pela primeira vez no dia, tive uma idéia realmente boa. Lembrei que apesar de ser a única moradora do meu prédio (era um edifício de veraneio), ainda podia apelar para o zelador, que na época já havia se tornado um verdadeiro avô pra mim.
E, claro, usei o celular. Talvez pela primeira vez desde o início da odisséia. Antes tarde do que nunca, não?
Combinei com ele, quando cheguei na cidade peguei um táxi, e ele ficou me esperando na frente do prédio para me emprestar o dinheiro da corrida.
No fim deu tudo certo.
Quanto ao cheiro? Bem, foram três banhos de café,para que o cheiro realmente saísse. E a violeta? Uma semana indo pra aula de boné.
Mas, fazer o que? Eu queria tudo que eu tinha direito não?
Acho que eu tive.

3 comentários:

  1. hahaha
    Trote...ainda bem que não tive isso.
    e ainda bem que não te conhecia nessa época kkkk imagino o cheiro "agradabilíssimo".
    Vc e suas aventuras de busão kkk
    paralisia facial??
    conta isso direito!!

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  2. Deve ser por isso que dizem que calouro é burro! Ueheuheuheueh. Sem ofensas.

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  3. concordo!! Calouro eh tudo burro...kkkk

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